Na semana em que contei ao rapaz que eu curtia caras, havia marcado a minha cirurgia, mas não comentei nada a ele. O primeiro dia de internamento foi como esperado, muita dor e jejum absoluto. Ainda meio grogue da anestesia, recebi uma ligação achando ser mais uma de algum conhecido querendo saber como eu estava. Pra minha surpresa era ele. Perguntou o que eu faria na sexta [era uma quarta-feira] e me convidou para um chope naquele dia. Apesar de que tinha acabado de sair do centro cirúrgico, aceitei.
No dia marcado, após muitos protestos da minha mãe, pois estava proibido de dirigir por 10 dias, “enchi a cara” de analgésico, peguei o carro e sai. Isso porque ela não sabia que eu sairia para beber, senão ela tinha me acorrentado na cama. Passei no shopping, peguei o cara e fomos para um barzinho no Batel. Começamos o papo meio constrangidos, afinal ele sabia, ou pelo menos imaginava a minha condição. Lá pela meia-noite, já sentindo certa aproximação dele, convidei-o para dar uma volta e prometi levá-lo em casa. O efeito do analgésico começou a diminuir, mas eu estava ali firme, sem reclamar. Já próximo de casa, ele pediu que eu parasse para a gente conversar. Nisso o telefone dele toca, ele pediu licença e desceu do carro para atender. Percebi que os ânimos estavam exaltados, mas fingi que não vi nada.
Ele entrou e voltamos a conversar. O papo estava ótimo, mas a cada meia-hora o telefone dele tocava e ele tinha que atender. Isso misturado com a dor que eu estava sentindo, estava me deixando irritado, mas não transpareci.
Algum tempo depois, já na maior intimidade, voltamos a tocar no assunto sexualidade. Respondíamos às perguntas meio constrangidos. Perdemos a noção do tempo. Quando me dei conta, estávamos nos beijando loucamente. E eu com aquela dor tremenda. Ele levou a mão na minha barriga e sentiu a cinta compressora. Ele parou e me olhou com uma cara de "o que é isso". Comentei que tinha feito uma cirurgia há três dias e ainda estava com o pontos. O cara ficou espantando. Disse a ele que não havia problema, desde que não me "apertasse". E assim ficamos até as três da manhã. Ele então me convidou para um lugar mais reservado. Tive que recusar, a dor já estava insuportável e falei que do jeito que eu estava não daria, mas prometi de nos vermos em outro dia. O celular voltou a tocar, ele então se despediu, desceu e atendeu. Vi que ele estava visivelmente irritado com a pessoa do outro lado. Liguei o carro e sai.
Não nos vimos mais desde então. Apesar de esta minha primeira vez com um cara ter sido memorável, a situação [eu sentindo dor e ele atendendo o celular a cada meia-hora] não me animou para um próximo encontro. Perdi o interesse. Cheguei a me questionar se era mesmo isso que eu curtia. Voltamos a conversar pelo MSN depois de um tempo. Descobri que a pessoa que o ligara naquele dia, era o "caso" dele. No mínimo o cara estava patrulhando.
O problema é que agora, toda vez que sinto dor de estômago, lembro do cara. Fazer o que? Coisas da vida.
O problema é que agora, toda vez que sinto dor de estômago, lembro do cara. Fazer o que? Coisas da vida.