Semana retrasada fui convidado por uma prima para a comemoração de Bodas de Prata dos pais dela. Apesar de ser "arroz de festa" e geralmente não faltar uma, desta vez não estava muito animado para ir. E assim havia decidido. Aceitei o convite, mas deixei minha presença em aberto.
Na última hora, minha mãe insistiu para que eu fosse. Pensei um pouco, fiz um esforço e fui, mas por consideração aos meus tios. Minha expectativa era de encontrar aquelas tias velhas distantes que não vejo há anos, as primas que sempre ficam de canto e os primos que se juntam pra falar de mulher e futebol. Lá chegando, só confirmei aquilo que já imaginava. Isso não foi nada perto de ter que ficar respondendo aos parentes, o paradeiro da minha ex-mulher.
Após a cerimônia na igreja, me dirigi ao salão de festas e me sentei. A maioria do pessoal ainda estava do lado de fora cumprimentando meus tios. Não via à hora de o martírio acabar. De repente, distraído com meus pensamentos, fui interrompido pelo garçom: "Quer beber algo?". Quando levantei os olhos e me deparei com o cara, tremi na base. O cara era lindo, usava cavanhaque e cabelo arrepiadinho. Vi que ele me olhava fixamente nos olhos. Naquele segundo já saquei que alguma coisa havia. O rapaz voltou com a cerveja e mais uma vez ocorreu um encontro de olhares. O salão ainda estava praticamente vazio.
Da mesa onde eu estava sentado, conseguia ver o rapaz atrás do balcão do bar. E assim passamos parte da noite trocando olhares. A certa altura eu buscava cerveja pra todo mundo, só pra ver o cara. Já na quarta garrafa e desinibido o bastante, me ofereci para renovar a bebida da mesa. Chegando ao bar, puxei assunto com o rapaz: "Eu acho que conheço você! Você estudou no João Ribeiro certo?", menti. Ele sorriu e confirmou que sim. Chutei, acertei e aproveitei a brecha. Continuamos a conversar, abri e tomei a cerveja ali mesmo. Sempre olhando ele nos olhos e fazendo cara de safado. Ele sorria e desviava o olhar. Era a confirmação.
Voltei à mesa pra não dar bandeira, afinal a família inteira estava presente e ninguém ali sabia [e nem deveria saber] da minha vida dupla. Quando as luzes se apagaram e começaram com a música, voltava ao bar constantemente para dar continuidade à conversa, que já estava esquentando. Em uma ida ao banheiro, surpreendentemente me deparei com o cara. Percebi que ele estava de saída, mas mesmo assim ficou se enrolando, fingindo limpar a camisa. Ali havia três cabines, olhei para a última, aproveitei que o local estava vazio e num ímpeto de coragem e ousadia [o que algumas garrafas de cerveja não fazem], peguei o cara pela mão e puxei-o para a cabine. Ele não resistiu. Fechei a porta e tasquei um beijo forte nele, que foi correspondido a altura. Ficamos naquele amasso uns cinco minutos. Sentia que o volume nas calças do rapaz crescia. Para evitar sermos descobertos e após nos certificarmos que não havia ninguém, saímos. Antes é claro, trocamos telefones e prometemos de nos rever.
Deixei o rapaz continuar seu trabalho e me joguei na pista a dançar, feliz da vida. Ao chegar em casa, me deparei com uma mensagem no celular: "Adorei nossa loucura! Espero te ver de novo ainda essa semana. Beijo". Sorri. Neste momento lembrei que a minha amiga Mama vive reclamando que, em qualquer lugar que eu vá, sempre encontro alguém para foliar, seja na rua, no shopping, até no aeroporto. Fazer o que? Eu não procuro, eles aparecem!